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Volta às aulas terá ato de repúdio

19/08/2012

Volta às aulas terá ato de repúdio

Descontente com o fim da paralisação de quase 90 dias, grupo de estudantes usa a internet para protestar contra a decisão de retorno às atividades e marcar encontro durante a entrada dos alunos, amanhã. Mais de mil universitários confirmaram presença 

Após polêmica decisão a favor do fim da paralisação dos professores da Universidade de Brasília (UnB) na última sexta-feira, um movimento de estudantes iniciado nas redes sociais convoca aqueles que não concordaram com a deliberação a se reunirem amanhã, primeiro dia de aula após 89 dias. A concentração será na Entrada Sul do Instituto Central de Ciências (ICC), o Minhocão, a partir das 10h. O grupo pretende fazer um ato em repúdio à forma como acabou a greve. Além disso, para os universitários, ela terminou sem que as principais reivindicações, como reajuste significativo aos servidores e melhorias estruturais da instituição, fossem atendidas.

O movimento na internet, intitulado de A greve continua!, surgiu poucas horas após a decisão de retorno às atividades. A princípio, a Assembleia Extraordinária de Pauta Única havia sido convocada para a categoria discutir a possibilidade de adiamento das eleições para reitor, em 22 e 23 de agosto. Um grupo, no entanto, pediu para deliberar sobre a paralisação. A inclusão do assunto, então, foi votada e aprovada. O placar, apertado, foi de 130 a 115 a favor do fim do movimento. Com a decisão, membros do Comando Local de Greve (CLG) levantaram a hipótese de golpe durante a deliberação, o que provocou reações entre professores e alunos.

Até a tarde de ontem, mais de mil pessoas confirmaram no site de relacionamentos a participação no encontro de amanhã. Um dos comentários dizia que o "evento é uma prova de que o verdadeiro movimento estudantil não morreu. Estejam todos lá". Outro internauta convocou os alunos da instituição a agirem: "Agora, é a hora dos estudantes da UnB. Nós poderíamos seguir em greve para mostrar à AdUnB quem é que manda! Ela já deu um golpe nas eleições para reitor com a ação sem-vergonha que promoveu para acabar com a paridade, agora poderíamos fazer uma paralisação estudantil e impedir que as aulas recomecem sem conquistas claras para a universidade, para os estudantes e para os servidores".

Docentes aproveitarão o ato dos estudantes para recolher assinaturas a fim de que seja mantida a assembleia marcada para a próxima terça-feira, na qual seria discutida a continuidade do movimento.

Polêmica
Diante das reações, o presidente da AdUnB, Rafael Morgado, reafirmou que não houve golpe. "A assembleia é legítima e soberana. Eu, enquanto presidente, só conduzo a assembleia, não tenho voto. O encontro de ontem se dirigiu da maneira que escolheram e eu não interferi em nenhum momento", esclareceu (leia Cara a cara). Já o professor do Departamento de Filosofia e membro do Comando Local de Greve (CLG) Rodrigo Dantas afirmou que há indignação pela forma como a greve foi encerrada. Para ele, houve um boicote. "Uma greve não pode terminar com uma assembleia que não foi convocada para decidir isso", opinou. Dantas afirmou que o comando estuda quais medidas pode tomar, mas disse que, enquanto isso, a decisão de sexta-feira sobre a volta às aulas será mantida.

Memória
Propostas
e impasse
A greve nacional dos professores universitários teve início em 17 de maio deste ano. As principais reivindicações da categoria são o reajuste salarial e a restruturação da carreira. Desde o início da paralisação, o governo ofereceu duas propostas aos grevistas. A primeira delas dava um reajuste mínimo de 12% e, máximo, de 40%, mas acabou recusada. A segunda aumentou o mínimo para 25%. O impasse, no entanto, está na progressão da carreira. O governo concordou em reduzir os níveis de ascensão de 17 para 13, mas os professores mantiveram a paralisação porque exigiam a progressão linear, ou seja, aqueles que não realizam pesquisa ou publicam artigos científicos também podem atingir o cargo máximo das instituições. Parte dos professores se mostrou a favor do fim da greve e considerou boa a proposta do executivo.

Cara a cara

Rodrigo Dantas,
professor do Departamento de Filosofia e
membro do Comando Local de Greve (CLG)
"Há uma grande indignação pela forma como a direção da AdUnB se colocou durante toda a greve. Houve um boicote do início ao fim. Na última sexta-feira, o comando foi boicotado e a assembleia, golpeada. Eles (AdUnB) usaram uma manobra porque o encontro foi marcado para discutir a suspensão do calendário eleitoral. Não é legítimo e democrático que a eleição ocorra com a universidade esvaziada, sem a participação dos estudantes e da comunidade acadêmica. Sem que a greve estivesse na pauta, colocaram um fim na paralisação e ganharam por uma diferença de apenas 15 votos. Muitas pessoas não apareceram lá por causa da pauta de votação. Neste momento, há uma indignação. Essa manifestação ganhou espontaneidade e virá à tona nesta semana."

Rafael Morgado,
presidente da Associação dos Docentes
da Universidade de Brasília (AdUnB)
"Não houve golpe, a assembleia é legítima e soberana. Eu, enquanto presidente, só conduzo a assembleia, não tenho voto. O encontro de ontem se dirigiu da maneira que escolheram, e eu não interferi em nenhum momento. Essa questão é complicada. Na última quinta-feira, teria uma assembleia, tivemos um gasto enorme para realizá-la, mas antes de começarmos, eles (o Comando Local de Greve) vieram com uma proposta para suspendê-la para poderem participar do protesto dos servidores públicos na Esplanada dos Ministérios. Isso também não estava na pauta, mas, como eram maioria, conseguiram aprovar a proposta. Nesse caso, a assembleia é soberana ou só quando interessa a eles? Volto a dizer, a decisão de ontem foi legítima, e as aulas serão retomadas amanhã."

Fonte: Correio Braziliense

Imagem: Loucospelosanta.com.br