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Um choque de inovação
14/07/2012
Um choque de inovação
GLAUCO ARBIX, JOÃO ALBERTO DE NEGRI E ROBERTO VERMULM
OBrasil caiu 37 posições no ranking do Índice Global de Inovação, elaborado pelo Instituto europeu de ensinoe pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual, em que pesem todos os avanços dos últimos anosem nossas empresas e nos programas governamentais. Mesmo com seus vícios de origem, o resultado sugere reflexão sobre o que fazer para aumentar a competitividade da nossa economia.
A experiência internacional e a nossa própria história indicam que a elevação da capacidade tecnológica deum país é essencial para gerar ganhos de produtividade, sem o que as economias enfrentam dificulda despara manter um crescimento saudável e duradouro. Antes da crise, os frágeis indicadores de inovação no Brasil apontavam a nossa dependência tecnológica como um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento.
Diminuir a distância que nos separa das práticas mais avançadas, aumentar o investimento em pesquisa ecolocar as empresas no centro das políticas públicas era fundamental. Em meio à crise, ações nessa direçãotornam-se ainda mais urgentes.
Foi com esse olhar de futuro que a presidente Dilma deu passos decisivos para amenizar duas chagasestruturais do passado, o câmbio e os juros altos. O governo caminha para mexer agora no custo da energia.
Combinadas, essas medidas tendem a se transformar em pilares de um projeto de longo prazo, capazes deatrair mais investimentos, fomentar a demanda por tecnologia e sustentar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
A procura de um novo modelo de desenvolvimento - distinto do velho desenvolvimentismo interventor e da ilusão dos anos 90 nas virtudes do livre mercado - está na raiz dos avanços que o Brasil deu em anos recentes. Aprofundar essa busca exigirá ações efetivas para a melhoria da qualidade da educação e a multiplicação do investimento em ciência, tecnologia e inovação. Porém, esse quarteto inquestionável só funcionará quando seus termos forem integrados e irrigados por muito investimento. Não há atalhos para o desenvolvimento. E todos os caminhos sensatos apontam para a capacitação de brasileiras e brasileiros como o único passaporte para o futuro. Foi por essa via que o mundo mudou. A ciência e a tecnologia se massificaram. E o conhecimento tornou-se chave para qualquer projeto nacional de peso. É por essa via que o Brasil poderá avançar.
Sem alterar o atual sistema de investimento e de financiamento à tecnologia e inovação, dificilmente nosso país avançará em meio à complexidade da nova competição global. O Brasil cresceu e o sistema de apoio à ciência e à tecnologia continua o mesmo, quando não diminuiu. A importância de um programa como o Ciência sem Fronteiras ajuda a assentar novas bases para a ciência e tecnologia. Por seu porte e qualidade, tende a tornar-se essencial para um país marcado por pretensões autárquicas. ciência e à tecnologia continua o mesmo, quando não diminuiu. A importância de um programa como o Ciência sem Fronteiras ajuda a assentar novas bases para a ciência e tecnologia. Por seu porte e qualidade, tende a tornar-se essencial para um país marcado por pretensões autárquicas.
Em geral, até os anos 2000 as políticas públicas trataram as tecnologias como um subproduto do crescimento econômico, e não uma condição para sua sustentabilidade.
É preciso um esforço para quebrar resistências criadas ao longo dos anos nas empresas, universidades e governos. É só olhar para nossa história e constatar que a geração de tecnologia não floresceu naturalmente com o crescimento econômico.
Nos momentos de virada, como no início dos 80 e 90, o Brasil perdeu chances históricas de alterar o rumo da indústria, da pesquisa e da nossa economia. O preço que pagamos foi alto. E se expressa na dependência das commodities e na baixa capacidade de recuperação da economia.
Apesar dos esforços das empresas, as barreiras de contenção continuam fortes. Desconfiança e desânimo misturam-se com velhos hábitos e tendem a se dobrar às tentações de um Brasil protecionista. Além de requentado, o prato não sacia a fome. O Brasil precisa de um choque de inovação. Temos pesquisa de ponta e empresas dinâmicas que superam multinacionais mesmo em terreno adverso. Temos instituições e instrumentos para dar esse salto. Mas ainda engatinhamos no financiamento à inovação e no volume e qualidade do investimento. Não é à toa que ganha corpo o debate sobre imposto zero para todo investimento em ciência, tecnologia e inovação.
A ascensão de mais de 30 milhões de pessoas oferece o melhor substrato para políticas com foco no aumento da produtividade. Há uma demanda crescente por conhecimento associado ao lançamento de novos produtos e processos pelas empresas brasileiras. Ainda são poucas as empresas inovadoras, mas há um crescente apetite do setor produtivo privado e ousadia para investir em inovação, como o crescimento exponencial da demanda na Finep vem comprovando.
Pesquisas indicam a existência de quase 800 empresas com departamentos de pesquisa e desenvolvimento(P&D), que possuem mestres ou doutores com dedicação exclusiva. Em contraste com o mundo avançado, porém, mais de 90% dos investimentos em atividades inovadoras realizados por estas empresas são financiados com recursos próprios.
Os números indicam que o investimento nas empresas que têm P&D é de R$ 63 mil por trabalhador ocupado, enquanto que nas que não têm P&D o investimento é de R$ 33 mil. Isso significa que no mundo atual é a pesquisa nas empresas que ajuda a deflagrar mais investimentos, e não o contrário. Mais eloquente ainda, quem investe nas áreas intensivas de conhecimento cresce mais de 20% a mais do que os que não investem. Fomentar o investimento em P&D destas empresas gera aumento no investimento em capital físico, ajuda na diversificação de seus produtos e serviços e na ampliação de suas competências, o que é determinante para acelerar o crescimento econômico. Apoiar ações nessa direção é o papel que cabe a instituições especializadas, como a Finep, que se esforça para se colocar à altura das necessidades do país.
O padrão de crescimento brasileiro via mercado de massas somente será sustentável se gerar, disseminar e incorporar tecnologia para viabilizar ganhos de produtividade. O investimento em tecnologia e inovação precisa crescer em pelo menos cinco vezes o crescimento do PIB. Para saltar dos atuais 1,2% do PIB em
Fomentar o investimento em P&D destas empresas gera aumento no investimento em capital físico, ajuda na diversificação de seus produtos e serviços e na ampliação de suas competências, o que é determinante para acelerar o crescimento econômico. Apoiar ações nessa direção é o papel que cabe a instituições especializadas, como a Finep, que se esforça para se colocar à altura das necessidades do país.
O padrão de crescimento brasileiro via mercado de massas somente será sustentável se gerar, disseminar e incorporar tecnologia para viabilizar ganhos de produtividade. O investimento em tecnologia e inovação precisa crescer em pelo menos cinco vezes o crescimento do PIB. Para saltar dos atuais 1,2% do PIB em P&D para 1,8% em 2015, o investimento adicional seria de R$ 26 bilhões para o setor privado e R$ 26 bilhões para o setor público. Não se trata de inventar recursos novos, mas de zelar pela qualidade do investimento, priorizar e concentrar esforços em tecnologia. Nosso país tem condições para isso.
O Brasil precisa lançar um grande programa para modernizar e ampliar sua infraestrutura científica e tecnológica associada aos projetos de desenvolvimento de inovação nas empresas brasileiras. Como uma agência de fomento federal, a Finep se prepara para fazer mais pelo país no seu aniversário de 45 anos de experiência.
GLAUCO ARBIX é presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
JOÃO ALBERTO DE NEGRI E ROBERTO VERMULM são diretores da Finep .
Fonte: Aarffsa.com.br
Imagem: Site.protec.org.br