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Os reis da propriedade

13/12/2012

Os reis da propriedade

A Universidade de Brasília aparece como a maior dona de terras no Plano Piloto, com 26 projeções só na Asa Norte. Individualmente, nomes como os de Luiz Estevão e de Paulo Octávio se destacam com fortunas feitas a partir do tesouro imobiliário do DF

» ANA MARIA CAMPOS
» LILIAN TAHAN

A Universidade de Brasília (UnB) está para as terras urbanas como Luiz Estevão para as propriedades rurais do Distrito Federal. A UnB é a maior dona de terrenos no Plano Piloto. Mantém em seu patrimônio um estoque do que se tornou raridade no coração da capital: áreas habitacionais não construídas. São 26 projeções de prédios. Todas na Asa Norte, bairro nobre em Brasília. O acervo imobiliário da instituição inclui 1.747 imóveis. E, se depender da nova gestão, eleita em setembro, os bens não serão desfeitos, mas multiplicados. “Somos uma universidade rica. Não defendo queimar imóveis. Devem servir para nos gerar cada vez mais renda”, considera o reitor da UnB, Ivan Camargo.

O acadêmico, no entanto, ressalva que a decisão final será tomada a partir do Conselho Diretor, que, depois de cinco anos sem convocação, será reativado, com nomeações de integrantes escolhidos em lista tríplice pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante. A instância define as diretrizes imobiliárias da Fundação Universidade de Brasília. A UnB arrecada por ano R$ 18,8 milhões com aluguéis de imóveis. Entre seus bens, estão 816 apartamentos alugados na Asa Norte e 677 unidades funcionais ocupadas por professores e servidores.

De tão amplo, é difícil calcular o tesouro imobiliário da instituição. Cada projeção mede mil metros quadrados, suficientes para erguer um prédio de seis andares, gabarito permitido no Plano Piloto. Um terreno como esse custa entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões na Asa Norte. O bairro é hoje o mais valorizado do Distrito Federal, uma vez que, diferentemente do Setor Noroeste — em construção —, a Asa Norte conta com infraestrutura. Além disso, tem características que contribuem para uma boa qualidade de vida, como comércio consolidado e o Parque Olhos d’Água, uma área ambiental de 21 hectares entre as quadras 413 e 414 Norte, além de ser endereço da própria Universidade de Brasília.

A UnB amealhou um patrimônio substantivo já em sua criação, em 1961. Por um decreto do então presidente João Goulart, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), à época dona de todas as terras públicas, doou 12 superquadras inteiras para a universidade, patrimônio que a instituição negociou ao longo dos últimos 50 anos.

Shoppings

As valiosas terras que constroem riquezas em Brasília estão concentradas nas mãos de poucos. A história mostrou que a capital produziu três tipos de milionários ligados ao setor imobiliário. Os que, como Luiz Estevão, investiram em propriedades rurais; aqueles que acumularam patrimônio urbano aplicado em locações; e os donos de incorporadoras. O empresário Paulo Octávio foi um dos que enriqueceram transitando entre duas dessas atividades. Especializou-se na compra de projeções licitadas pela Terracap, na construção de prédios e na venda a terceiros.

Paulo Octávio também fatura alto com o aluguel de salas em shoppings, hotéis, entrequadras e prédios. Não há como percorrer o Plano Piloto sem notar a marca de seu domínio econômico. Ele já construiu 600 empreendimentos ao longo de 37 anos à frente da empresa. O ex-vice governador do DF, casado com Anna Christina Kubitschek, neta do ex-presidente Juscelino Kubitschek, ergueu quatro shoppings (Casa Park, Iguatemi, Brasília e Taguatinga), dos quais mantém sociedade em três. Ele investe agora na inauguração do primeiro centro de compras de Ceilândia, maior cidade do Distrito Federal que abriga população de classe média baixa. O centro comercial será batizado de JK, o fundador de Brasília.

Afastado da política desde a crise com a Operação Caixa de Pandora, na qual se tornou um dos alvos em fevereiro de 2010, ele voltou a se concentrar nas empresas. Tem como meta econômica chegar aos mil empreendimentos na capital. Nos negócios, ele não deve ter do que reclamar. Às vésperas da Copa do Mundo, Paulo Octávio se prepara para faturar com a hospedagem dos milhares de turistas que desembarcarão em Brasília para assistir às partidas no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. O empresário é dono de quatro hotéis no Plano Piloto. “A PauloOctávio não investe um centavo fora do DF”, diz o empresário.

A exemplo de Paulo Octávio, há uma geração de ricos que teve como base de suas fortunas o mercado imobiliário de Brasília. Enquanto uns se fixaram nos empreendimentos habitacionais, outras famílias fizeram um patrimônio com a locação de imóveis. É o caso dos Baracat, dos Lutfala, dos Bittar e dos Rodopoulos. Todos fazem parte de uma elite de endinheirados que o solo fértil da capital ajudou a produzir. Dados da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF) revelam que, ao focar seus rendimentos nas várias possibilidades que a terra oferece de lucro, apostaram certo. O mercado cresceu só na última década, em média, 20% ao ano. Poucos negócios no mundo rendem tanto.
%u201CSomos uma universidade rica. Não defendo queimar imóveis. Devem servir para nos gerar cada vez mais renda%u201D Ivan Camargo, reitor da UnB (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 19/11/12)
%u201CSomos uma universidade rica. Não defendo queimar imóveis. Devem servir para nos gerar cada vez mais renda%u201D
Ivan Camargo, reitor da UnB

Para saber mais

Quase um século de especulação

Os primeiros casos de especulação imobiliária no Distrito Federal ocorreram na década de 1920, quase 40 anos antes da inauguração de Brasília. A venda de terrenos teve início em 1922, quando foi lançada a Pedra Fundamental da futura capital, no Morro do Centenário, a nove quilômetros de Planaltina (GO). O agrimensor Deodato do Amaral Louly, latifundiário da região, criou áreas habitacionais em suas propriedades de Goiás, com o atrativo de que algum dia elas seriam parte da capital da República. E foram mesmo. Deodato foi um dos donos da Fazenda Bananal, onde se construiu a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes.

Ele ganhava, por exemplo, terras das fazendas de Goiás como parte do pagamento pelos serviços que prestava de medição das propriedades. Deodato chegou a se tornar intendente (prefeito) de Planaltina. Entre 1928 e 1930, foram criados diversos projetos de loteamentos, entre os quais Planaltópolis, Planaltinópolis e Planópolis. Muita gente comprou terrenos ou ganhou os lotes em promoções do tipo “Encontre uma arara no desenho”, publicadas em jornais da época.

Nesse caso, o beneficiário pagava “apenas” algumas taxas. Esses parcelamentos, no entanto, só existiam no papel. Os lotes não foram demarcados e, com isso, os compradores não podiam tomar posse. Nos contratos, havia uma cláusula de retrocessão, segundo a qual quem não ocupasse as terras compradas num prazo de cinco anos perdia para o proprietário original.

O presidente da Comissão de Desapropriação, Altamiro de Moura Pacheco, registrou no relatório que foi procurado por várias pessoas que alegam terem direito sobre essas terras. Integrantes da comissão fizeram sobrevoos e percorreram a região de Jeep, mas os loteamentos nunca foram encontrados. Décadas depois, com a valorização imobiliária da capital, herdeiros tentavam fazer valer o direito de propriedade de terras compradas pelos pais. Alguns entraram na Justiça com pedido de indenização. Não houve caso de sucesso, segundo a Procuradoria jurídica da Terracap. (AMC e LT)

Fonte: Tjdft.myclipp.inf.br

Imagem: Correiobraziliense.com