No Recife, PSB aposta em perfil de gerente
25/06/2012
No Recife, PSB aposta em perfil de gerente
O fim da aliança do PT com o PSB no Recife levará à disputa o administrador de empresas Geral Júlio Mello Filho, candidato do governador do Estado, Eduardo Campos (PSB). Administrador de empresas de 41 anos, é um neófito em eleições, mas não na política. Filho de um casal de militantes do Partido Comunista, Geraldinho - como é chamado pelos mais íntimos - é velho conhecido da família Arraes e de Campos, que acabou se tornando o seu padrinho político.
Funcionário de carreira do Tribunal de Contas do Estado (TCE), ele acumula vivência relevante na burocracia do poder em Pernambuco, sempre atuando na cozinha. Trabalhou no terceiro governo de Miguel Arraes (1995-1998) e foi secretário de Finanças da Prefeitura de Petrolina (2002 a 2003) na gestão do hoje ministro da Integração, Fernando Bezerra. Também fez parte da equipe de Campos no Ministério da Ciência e Tecnologia (2005 a 2006).
"Ele sempre teve a função de limpar os cinzeiros e levar as pastas", lembra uma fonte influente no governo pernambucano, ao mencionar o papel de fornecedor de números e informações técnicas exercido por Geraldo Júlio no início da carreira. Ao lado de outros três secretários de Estado, ele integra o rol dos herdeiros políticos de Campos. Enquanto a aliança com o PT vigorou, seu nome sempre era citado para a sucessão do governador, em 2014.
A versão oficial no PSB é de que sua indicação para a corrida municipal obedeceu a critérios técnicos. Pesquisas internas teriam apontado que a população do Recife estaria inclinada a escolher um prefeito com perfil de gerente, quesito no qual Geraldo Júlio se sobressai perante os colegas socialistas.
A fama ganhou corpo durante a primeira gestão de Campos, na qual o agora prefeiturável atuou como secretário de Planejamento e Gestão. Ele foi um dos responsáveis pelo sistema de gestão por metas implantado na administração estadual, cujos resultados positivos renderam muitos dividendos políticos e eleitorais a Campos, haja vista a vitória esmagadora na disputa pela reeleição, há dois anos.
No segundo mandato, o governador promoveu um rodízio de secretários. Com a saída de Fernando Bezerra para o governo federal, Geraldo Júlio acabou contemplado com a presidência do Porto de Suape e com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, o que já lhe rendeu maior visibilidade - apesar de seu nome ainda dar traço nas pesquisas eleitorais. A presença nos palanques e os discursos, no entanto, deixavam evidente que Campos o estava preparando.
Há três semanas, já prevendo o lançamento de uma candidatura própria do PSB, o governador exonerou, além de Geraldo Júlio, os secretários Tadeu Alencar (Casa Civil), Sileno Guedes (Articulação Regional) e Danilo Cabral (Cidades). Os quatro fazem parte da ala do PSB que não suporta a relação com o PT em Pernambuco e que sempre cobrou de Campos uma postura mais dura em relação aos aliados.
De acordo com a mesma fonte, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou mesmo aborrecido com a decisão de Campos em lançar candidato no Recife. "Ele (Lula) ficou chateado, mas Eduardo (Campos) não tinha outra alternativa. O governador entende que esperou tudo o que podia. O PT consumiu todos os prazos. Além do que, o PSB não vai abrir mão da chance de aumentar a sua presença em uma praça política tão importante".
Na avaliação do governador, a falta de unidade no PT colocou em risco a hegemonia política da Frente Popular, grupo de partidos que comanda a política em Pernambuco. Apesar de o comando petista confirmar a candidatura do senador Humberto Costa, a guerra interna ainda não acabou. Determinado a disputar a reeleição, o atual prefeito, João da Costa, apelou para o diretório nacional do partido, que vai avaliar seu pedido hoje, em Brasília. As chances do prefeito, no entanto, são mínimas.
Confirmada a candidatura do PSB, o PT chegou a ensaiar uma debandada geral da gestão estadual, mas acabou voltando atrás. Na sexta-feira, o presidente do partido em Pernambuco, deputado federal Pedro Eugênio, divulgou uma carta na qual cobrou apoio do PSB a Humberto Costa. No documento, o parlamentar destacou os diversos "gestos de solidariedade" feitos pelo partido ao longo dos anos.
"O PT nunca faltou ao governo do PSB no Estado, dando sustentação política (Assembleia Legislativa, Câmara dos Deputados e Senado), contribuindo com a interlocução com os movimentos sociais e participando com quadros expressivos do partido no governo estadual. Ressaltamos ainda os inúmeros investimentos federais trazidos para Pernambuco pelos governos Lula e Dilma, como a Refinaria Abreu e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul, a Transnordestina, entre outros que demonstram a importância da parceria política e administrativa existente entre o PT e o PSB", diz um trecho da carta.
Fonte: Valor Econômico
Imagem: folhape.com