Faça uma busca abaixo:
Posso Ajudar?

Nas Entrelinhas

24/06/2012

Nas Entrelinhas

Eduardo Campos pula a fogueira O PSB, com a decisão de lançar candidato próprio em Recife, tenta reforçar o multilateralismo na política brasileira e mostrar que a submissão dos socialistas ao PT tem limite

Ao contrário do que poderíamos imaginar há alguns meses, é de Recife (e não de São Paulo) que vêm os principais movimentos para nos fazer pensar no futuro da política. Em São Paulo, parece que ficou tudo certo, no quesito "cada um com seu cada qual". O prefeito Gilberto Kassab cumpre seu compromisso com o candidato e amigo, José Serra. E o PSB de Eduardo Campos fechado com o PT e o candidato Fernando Haddad. Na capital pernambucana, terra natal de Lula e do governador Eduardo Campos, desenham-se os primeiros testes de separação entre PSB e PT.

Os paulistanos que leem essa coluna podem achar uma "heresia" mencionar o que ocorre numa capital nordestina como se fosse uma ponta de lança mirando o cenário nacional. Obviamente, ninguém que observe a política pode desprezar os movimentos paulistas, seja pelo papel do estado como motor da economia ou do número de eleitores. Mas, para usar uma palavra citada mais de uma centena de vezes pela presidente Dilma Rousseff nos últimos dias, o "multilateralismo" crescente no mundo começa a ganhar espaço na política brasileira. Diante dessa premissa, o erro é desprezar outras praças.

O gesto de Eduardo Campos ao lançar candidato a prefeito de Recife depois da divisão do PT local é cercado de simbolismos. O primeiro deles é o fim da submissão aos desejos petistas. Em 2010, Ciro Gomes se apresentou para concorrer a candidato a presidente da República pelo PSB. Os socialistas, a pedido de Lula, enterraram a candidatura num rito tão sumário quanto o impeachment de Fernando Lugo no Paraguai.

Este ano, os petistas pediram que Campos afastasse o PSB de São Paulo dos tucanos e dessem tempo de TV a Haddad. Assim foi feito. Não dá nem para colocar a saída de Luiza Erundina da chapa na conta de Eduardo Campos, porque quem escolheu Erundina foi o PT. E, no dia seguinte ao casamento, lá foi Lula tirar foto com Paulo Maluf. Em política, a forma como as coisas são feitas tem importância crucial e, diante da exposição, Erundina pediu anulação do casório.

Em Recife, os petistas contrários ao prefeito João da Costa pediram o nome do secretário Mauricio Rands, petista, como candidato e o PSB acolheu. Rands perdeu dentro do PT, a confusão se instalou, o PT sacou um terceiro nome, o do senador Humberto Costa, e pediu a todos que aceitassem de bom grado o desfecho - ainda que o PT pernambucano se mantenha dividido. Diante de tanto desgaste, entre correr o risco de apoiar o senador com o PT rachado ou tentar se fortalecer para o futuro, o PSB optou pela segunda hipótese. E já atraiu o PTB do senador Armando Monteiro. Se levar o PCdoB, então, ficará melhor. Ganhando, o PSB pode pensar em voos mais altos. Perdendo, terá espaço para negociar em outros patamares na hipótese de segundo turno.

Por falar em patamar...

Eduardo Campos, entretanto, sabe que a vida não será fácil. Afinal, seu candidato a prefeito é traço nas pesquisas. Portanto, só haverá uma visão clara se a aposta foi acertada depois de passados os primeiros 15 dias de horário eleitoral, ou seja, quando setembro chegar. Mas o recado está dado. O PSB anda meio cansado de ouvir dos petistas que Eduardo Campos é uma ameaça aos seus projetos de 20 anos de poder. Se vai dar certo, a campanha dirá. Mas pelo menos agora em tempo de são-joão, Eduardo mostra que sabe pular a fogueira.

Fonte: Correio Braziliense

Imagem: paraibahoje.wordpress