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Gordura ganha espaço na dieta

06/08/2012

Gordura ganha espaço na dieta

Cardiologistas aumentam de 7% para 10% a ingestão diária de calorias do tipo saturada, após constatarem que têm efeitos negativos menores do que se acreditava. A presença delas ainda diminui a incidência dos carboidratos, responsáveis pela obesidade 

O cardápio diário do brasileiro acaba de ganhar mais espaço para gorduras. No que depender da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), na hora de montar o prato, a preferência por carnes, leites e queijos poderá ser um pouco mais ambiciosa. A atual diretriz da SBC permite que o consumo diário de gordura saturada seja limitado em 7% da quantidade total de calorias ingeridas. Mas esse teto passou por uma revisão e, em breve, será publicado um novo número: 10%. Em linhas gerais, é como se as pessoas pudessem agora colocar uma pequena fatia de toucinho a mais no prato ou comer meia barra pequena de chocolate - levará vantagem se escolherem o meio amargo, que tem mais cacau, rico no tipo mais saudável de gordura saturada. A medida vale como uma recomendação direta para a população, mas, sobretudo, para médicos e nutricionistas montarem dietas equilibradas para os pacientes.

Elaborada por mais de 31 profissionais, entre cardiologistas, nutricionistas e endocrinologistas, a nova orientação surgiu da revisão da literatura. De acordo com um dos organizadores da diretriz, o cardiologista Daniel Branco, há tempos os estudos científicos sinalizavam que as gorduras eram menos ruins do que se imaginava. A agência americana de vigilância em alimentos e medicamentos, Food and Drug Administration (FDS), também fez essa alteração. O cardiologista, no entanto, ressalta que a mudança vale apenas para as gorduras saturadas, que já foram consideradas as grandes vilãs. "Hoje, existe uma maior possibilidade de liberá-las. Em compensação, os carboidratos, que não são bonzinhos, terão sua participação reduzida para uma boa alimentação", explica o cardiologista.

Segundo a nutricionista Simone Santos, membro da Associação Brasileira de Nutrição, na prática, pouco mudará. "As pessoas não têm o costume de comer quantidades exatas. Geralmente, consomem mais gordura saturada do que a indicada." Ainda assim, ela elogia a iniciativa. "As pessoas estão criando uma ojeriza de gordura e é preciso lembrar que não se deve pensar assim. Vale o aviso de que, principalmente entre as saturadas, existem gorduras boas e ruins", pondera. A nova diretriz é importante, segundo ela, porque o consumo de gordura de boa qualidade é fundamental para o transporte as vitaminas lipossolúveis e para a produção de hormônios.

As gorduras poli-insaturadas e monoinsaturadas também ganharam mais espaço na dieta. Segundo Branco, esses tipos já eram conhecidos como benéficos. "Sabemos que as gorduras insaturadas contidas em alimentos como azeite, castanhas e abacate diminuem o colesterol ruim", diz. Ele ressalva, porém, que é preciso respeitar a quantidade ideal para evitar aumento de peso.

Branco chama atenção também para o fato de que alguns tipos de gordura não devem constar nas dietas, mesmo em pequenas quantidades. As gorduras trans, hidrogenas provenientes de vegetais que são encontradas principalmente em alimentos industrializados, estão aos poucos saindo de cena. "Elas chegam a ser três vezes piores que as saturadas", esclarece. No lugar delas, as pessoas costumam consumir as saturadas, o que não é o ideal. "Não é uma atitude completamente inocente, mas é inegável que faz menos mal", avalia Branco.

Além de mudar o cardápio, a medida também visa alterar o rótulo dos produtos alimentícios. Branco explica que as informações nutricionais podem sofrer modificações no que diz respeito às porcentagens de cada alimento a serem consumidas diariamente. É como se, baseado em uma dieta de 2 mil calorias, um produto com 100 calorias de gorduras saturadas deixasse de representar 71% da necessidade diária, passando para 50%. "É uma recomendação, não é uma obrigação. Vai depender de cada fabricante", explica o cardiologista.

Risco de doenças crônicas
O principal argumento para aumentar o espaço para as gorduras saturadas e reduzir a quantidade de carboidrato é a obesidade. Itens como pães, massas, arroz, batatas são os principais responsáveis para a constante alta do número de obesos. De acordo com a última pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2011), divulgada em abril deste ano, quase metade da população brasileira está acima do peso. O índice que era de 42,7%, em 2006, subiu para 48,5%, em 2011. No mesmo período, o percentual de obesos subiu de 11,4% para 15,8%.

Fonte: Correio Braziliense

Imagem: Correio Braziliense