Força-tarefa tenta conter avanço da dengue em Santa Catarina
03/02/2015
Casos da doença no Estado, concentrados em Itajaí, deixam em alerta os órgãos de saúde
Santa Catarina está diante de uma nova, e perigosa, ameaça com o surto de dengue registrado neste verão, com foco no município de Itajaí. É a primeira vez nos últimos oito anos que o número de pessoas que contraíram a doença dentro do Estado é maior do que o de casos importados - pessoas que vieram para cá com a doença, contraída em outro lugar. Essa característica aumenta o risco de que a doença se espalhe para outros locais.
Até 2010, todos os casos atendidos eram "importados". Foram pessoas que vieram do Mato Grosso do Sul ou de São Paulo (os dois Estados com mais casos naquele ano) e acabaram desenvolvendo os sintomas aqui, durante sua viagem, e atendidos na rede hospitalar catarinense.
— No ano passado, com exceção de três casos em Itajaí, nós não tivemos transmissão. Os outros casos eram todos importados. Este ano nós estamos tendo um surto no Estado. Essa é a diferença e o grande risco — explica a gerente de vigilância de zoonoses da Secretaria de Estado da Saúde, Suzana Zeccer, que está acompanhando a questão.
Em 2015, pela primeira vez, são seis casos importados contra 31 dos chamados autóctones, aqueles que são contraídos por uma transmissão direta no local — no caso o município de Itajaí. A cidade é uma das consideradas infestadas pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive). Eram, três em 2013, mas aumentaram para oito no ano passado e o órgão de controle, por enquanto, contínua trabalhando com o mesmo número de cidades de risco.
Completam a lista os municípios de Chapecó, São Miguel do Oeste, Xaxim, Xanxerê, Pinhalzinho, Balneário Camboriú e Itapema. Terem sido consideradas como infestadas significa que os mosquitos transmissores aparecem de forma recorrente, com focos de reprodução do inseto.
Risco de se espalhar
O risco de transmissão para outros municípios fora dessa lista é considerado pequeno, pela baixa presença dos mosquitos transmissores. Mas nessas oito cidades, qualquer pessoa que chegue infectada com o vírus da dengue pode desencadear um novo foco de transmissão. A infecção do mosquito pode ocorrer antes do início dos sintomas na pessoa com o vírus e a doença pode inclusive ser confundida com uma gripe (e a pessoa voltar para casa porque acha que está resfriada).
A entrada do vírus é considerada inevitável. Mas é possível atuar na segunda condição necessária para um surto de dengue. Evitar a reprodução do mosquito é a melhor forma de impedir que a doença se espalhe. Para tanto, a fórmula já está consagrada: é não permitir que água parada acumule em objetos largados no quintal, terrenos baldios e outras propriedades. Missão que deve ser um trabalho conjunto entre a população e o poder público.
— Se as autoridades locais bloqueiam, diminuem a chance de transmissão ao cortar a quantidade de mosquitos, tentam localizar todas as pessoas febris na área, acaba que não tem transmissão. Mas isso espalha muito rápido — explica Lourenço Pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz.
Número de infectados pode aumentar até o final do verão
É também a primeira vez que Santa Catarina registra desde o início do verão um caso dessas proporções. Em outras oportunidades, as contaminações ocorreram mais ao final do verão, período que concentra a reprodução do mosquito e a transmissão da doença.
— O outro momento que tivemos contaminação dentro do Estado, em Chapecó, aconteceu no mês de março. Dessa vez estamos tendo desde janeiro. Se não houver uma diminuição efetiva do mosquito, a tendência é de um aumento no número de casos. Mas o trabalho está sendo feito para que a transmissão seja interrompida — afirmou a gerente de vigilância de zoonoses.
O pesquisador da Instituto Oswaldo Cruz, no entanto, alerta que o esforço tem que ser concentrado para cortar desde o início a possibilidade de transmissão da doença e também que há dois complicadores, comprovados em estudos: o mosquito tem mais chances de contrair e se tornar portador do vírus ao picar uma pessoa que ainda não desenvolveu os sintomas e a dengue normalmente está subestimada em cerca de 30%, já que algumas pessoas não procuram atendimento, confundindo com uma gripe, ou não são diagnosticadas da forma correta no hospital.
Ele lembra que a atenção tem que focar também nas pessoas para evitar que a doença se espalhe de forma rápida.
— Dentro do bairro, o mosquito tem um papel importante. Mas de um bairro para o outro, ou entre cidades, geralmente é o humano que carrega o vírus — explica Lourenço.
Saiba como se prevenir:
l Evite usar pratos nos vasos de plantas. Se usar, coloque areia
l Plantas como bromélias devem ser evitadas porque acumulam água
l Coloque latas, tampas de garrafas, cascas de ovos e outras embalagens vazias em sacos plásticos bem fechados antes de descartá-los
l Mantenha as lixeiras tampadas
l Lave com escova os potes de comida e água dos animais uma vez por semana, no mínimo
l Deixe a tampa do vaso sanitário fechada e dê descarga no mínimo uma vez por semana em banheiros pouco usados
l Coloque cimento nos cacos de vidro dos muros
l Mantenha os ralos vedados e desentupidos
l Guarde os pneus secos e em local coberto ou preencha-os com areia
l Mantenha as calhas para água da chuva desentupidas
l Retire a água acumulada na laje
l Deixe os depósitos para guardar água sempre vedados, sem nenhuma abertura, principalmente as caixas d'água
l Trate a água de piscinas com cloro e limpe-as uma vez por semana
l Citronela ou o óleo da planta também ajuda a espantar o Aedes aegypt
l O uso de repelentes no corpo espantam os mosquitos, mas não podem ser usados diariamente por serem tóxicos
Fonte: Thiago Santaella - Jornal de Santa Catarina com adaptações