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Faltam kits para testes de laboratório
11/08/2012
Faltam kits para testes de laboratório
Indústria reclama de mercadoria parada nos portos. Lojas de importados estão sem queijos e chocolates
BRASÍLIA, SÃO PAULO, CURITIBA e RIO - A greve dos servidores federais já prejudica empresários, comerciantes e até mesmo laboratórios que utilizam insumos importados. Em São Paulo, algumas linhas de produção que dependem de matéria-prima importada ou de reparos em peças feitos fora do país poderão parar na segunda-feira por causa das greves. Os setores mais afetados, segundo a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), são o automotivo, o farmacêutico, de plásticos e de produtos químicos.
Ricardo Martins, diretor de Comércio Exterior da Fiesp, diz que o "problema é grave pela proporção do radicalismo dos grevistas". Segundo ele, agora, as maiores dificuldades não são causadas apenas devido à greve da Receita, iniciada há um mês, mas igualmente à paralisação dos fiscais do Ministério da Agricultura e da Anvisa. A Fiesp também tem recebido diversas notificações de indústrias preocupadas com a escassez de matéria-prima:
- Os sistemistas, que fornecem às montadoras, por exemplo, dependem de insumo importado e vários deles já nos disseram que vão paralisar a linha de produção na segunda-feira. O reflexo disso será a parada das montadoras.
Produção de remédios afetada
A Alcatel-Lucent, que fornece soluções às redes telefônicas fixas e móveis, é um exemplo de empresa prejudicada pela greve. A indústria envia para fora do país placas de rede para reparos, mas elas não têm regressado.
- Várias placas que saíram do país para reparo não estão voltando. Isso pode parar a rede telefônica fixa ou móvel de uma determinada região que precise da peça - disse Nanci Kairalla, gerente de fornecimento da empresa.
A greve dos servidores públicos federais também afeta a indústria do Rio, que começa a ficar sem matéria-prima em razão da paralisação dos funcionários da Anvisa e da Receita Federal. A pedido da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a Justiça Federal concedeu duas liminares, determinando a liberação de produtos farmacêuticos retidos. Mas, segundo a Firjan, a ordem judicial não está sendo cumprida pelos grevistas.
A primeira decisão favorável à entidade é do juiz Alfredo de Almeida Lopes, da 24ª Vara Federal, que concedeu liminar em benefício dos laboratórios associados ao Centro das Indústrias do Rio de Janeiro (CIRJ). No dia seguinte, a juíza Marianna Carvalho Bellotti, da 20ª Vara Federal, intimou a Anvisa a providenciar, em até 48 horas, a inspeção das mercadorias importadas pelos laboratórios associados ao Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado do Rio de Janeiro (Sinfar).
A desobediência à ordem judicial foi comunicada ontem à tarde pela Firjan à Justiça Federal. Segundo a Firjan, dezenas de empresas estão com linhas de produção paradas e empregados ociosos. Há remédios, vacinas, equipamentos para soro, material radiológico e outros produtos farmacêuticos presos no terminal de carga do Aeroporto Internacional (Galeão).
- A todo momento, recebemos ligações de empresas com dificuldades. Hoje (ontem) mesmo recebi o contato de uma empresa que precisa de contraste radiológico para produzir e não está conseguindo. Em pouco tempo, não será possível fazer exames - disse a advogada-chefe da Divisão Tributária da Firjan, Cheryl Berno.
O problema não atinge só a indústria farmacêutica. Presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (Sbac), Irineu Grinberg relata que itens importantes para a rotina dos laboratórios já estão em falta, como os kits para diagnóstico de toxoplasmose, HIV, gripe H1N1 e para os testes de qualificação de doador para transfusão de sangue.
- Os produtos retidos são perecíveis e alguns têm prazo de validade curto. Se a greve se prolongar, o prejuízo será grande. Em 15 dias, vai faltar tudo - afirmou Grinberg. - Um só kit de HIV, suficiente para 92 testes, custa R$ 500.
O setor de alimentos também já sente os reflexos da greve. Presidente do Sindicato de Massas do Rio, Sérgio Duarte, diz que, além da falta de insumos, a retenção dos importados nos portos aumenta o custo da produção, já que o espaço de armazenagem é pago:
- Se o problema não for resolvido com rapidez, algumas fábricas terão de interromper a linha de produção.
O varejo também já acendeu a luz amarela. Helio Casagrande é dono da delicatessen Cosa Nostra, em Ipanema, e trabalha com produtos importados:
- A reposição dos importados caiu 35%. Estou sentindo falta de 71 produtos, entre chocolates europeus, queijos e biscoitos holandeses, alguns temperos orgânicos e massas italianas. Da Suíça, os chocolates estão escasseando, faltam 16 tipos; da Holanda, os queijos estão minguando.
Passaportes atrasados
A greve da Polícia Federal (PF) já compromete o pedido e a entrega de passaportes. Desde quinta-feira, o procedimento para solicitar o novo documento - que deve ser agendado pela internet - estava indisponível. Segundo a assessoria de imprensa da PF, isso se deve ao grande volume de acessos à página da instituição. A sobrecarga foi causada pelo aumento das consultas feitas por pessoas que já haviam solicitado o passaporte pela internet, mas que não puderam entregar a documentação na data agendada devido à greve.
Apenas os casos de urgência estão sendo feitos nos postos da PF. O problema atinge pessoas que tentam retirar o passaporte nos postos da instituição e aquelas que precisam entregar os documentos para iniciar o processo. Ao anunciar que os policiaIs federais reduziriam seu contingente a partir do último dia 7, a entidade que representa os servidores havia garantido que serviços já marcados não seriam afetados, porém a entrega de passaportes também parou.
O Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal e a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) negam que o acesso ao formulário tenha sido interrompido propositalmente, para evitar a marcação das entregas de documentos. Já a PF diz que os serviços de emergência, como a obtenção de passaportes, estão sendo prestados. Sobre a interrupção dos serviços na internet, eles reforçam que isso se deve a uma instabilidade no sistema, sem relação com a greve. A PF orienta que o cidadão continue tentando preencher o formulário na internet, pois a falha será solucionada.
Além disso, como não são todos os postos que aderiram à greve, a marcação de entrevista para entrega dos documentos poderá ser feita assim que a instabilidade no sistema for resolvida, e a abertura de horários depende do contingente que está trabalhando em cada posto.
A paralisação da Polícia Federal surpreendeu quem foi ao posto de atendimento do Aeroporto do Galeão solicitar o documento. Com viagem marcada para os Estados Unidos no próximo mês, o comerciante Sany Mizuki torce para que o movimento acabe logo.
- Fiz o agendamento há um mês. Agora fui informado de que precisarei fazer um novo agendamento pela internet. Como meu caso não é considerado de urgência, não tenho o que fazer, além de esperar.
(Vivian Oswald, Flavia Pierry, Débora Diniz, Roberta Scrivano e Lino Rodrigues)
Fonte: Oglobo.com
Imagem: G1.globo.com