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Arapuca de tucano?

23/07/2012

Arapuca de tucano?

Revista Carta Capital - 23/07/2012

ALOPRADOS | Relatório da PF entregue à CPI do Cachoeira revela um estranho diálogo gravado pelo araponga Dadá, a sugerir o dedo do PSDB no caso que atingiu Mercadante em 2006 

POR LEANDRO FORTES, DE BRASÍLIA

EM 29 DE FEVEREIRO de fevereiro deste ano, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Monte Carlo e revelou ao País o esquema criminoso do bicheiro Carlos Augusto

Ramos, o Carlinhos Cachoeira, três agentes federais esbarraram, sem querer, no rumo de outra história. Eles haviam sido designados, na ação policial, para uma missão de busca e apreensão na casa de Adriano Aprígio de Souza, ex-cunhado de Cachoeira e principal testa de ferro do bicheiro nos negócios de jogatina no estado. No apartamento de luxo localizado em Anápolis (GO), os agentes encontraram uma caixa branca cheia de CDs, DVDs e antigos disquetes de computador. Em um deles, a revelação de que o chamado "dossiê dos aloprados", que levou a eleição presidencial de 2006 ao segundo turno, teria sido uma arapuca do PSDB levada a cabo por uma suposta ala tucana da Polícia Federal.

Um pouco de memória: em 15 de setembro de 2006, a duas semanas do primeiro turno das eleições, dois integrantes do PT foram presos pela Polícia Federal em um hotel de São Paulo. A dupla, Valdebran Padilha e Gedimar Passos, foi pega com 1,7 milhão de reais em espécie, dinheiro para a compra de um dossiê contra o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. O candidato do PT, derrotado ainda no primeiro turno, era o atual ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. Diante do escândalo, e com o claro intuito de reduzi-lo a um problema regional, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva referiu-se ao problema como obra de "um bando de aloprados" e acabou por cunhar a expressão pela qual o caso passou a ser lembrado. A investigação da PF revelou que o dinheiro seria usado para comprar um dossiê no qual o nome de Serra, ex-ministro da Saúde, estaria ligado diretamente a outro escândalo, o da "máfia dos sanguessugas", especificamente na compra superfaturada de ambulâncias. O dossiê havia sido montado e estava sendo vendido pelos empresários Darci e Luiz Antônio Vedoin, pai e filho, donos da empresa Planam, de Mato Grosso, pivô do escândalo dos "sanguessugas". Luíz Antônio havia sido preso na madrugada do mesmo dia 15 de setembro de 2006, em Cuiabá, assim como um primo dele, Paulo Roberto Trevisan, em São Paulo, também acusado de participar da trama.

Foram envolvidos, ainda, no escândalo outros dois petistas. Um deles, Freud Godoy, então assessor especial de Lula, apontado como intermediador da compra do dossiê e, por isso mesmo, exonerado em seguida do cargo. O outro, Jorge Lorenzetti, apelidado de "churrasqueira" de Lula e um dos chefes do comitê de reeleição. Acusado de ser o mentor da operação, ele presidia a ONG Unitrabalho, com contratos milionários com o governo Lula. Lorenzetti foi afastado da campanha eleitoral e voltou a trabalhar no Banco do Estado de Santa Catarina (Besc). Em junho passado, o juiz federal Paulo Cézar Alves Sodré, da 7ª Vara Criminal de Mato Grosso, abriu uma ação penal contra todos os envolvidos.

Era o que se sabia, até a Polícia Federal enviar à CPI do Cachoeira, há pouco mais de um mês, o material apreendido na casa do ex-cunhado do bicheiro, em Goiás. Junto, a PF também enviou um relatório sob segredo de Justiça, ao qual CartaCapital teve acesso, com a íntegra de um diálogo gravado em vídeo entre Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, e o jornalista Mino Pedrosa, ex-repórter da revista IstoE, apontado como ex-consultor de Carlinhos Cachoeira. A existência desse material havia sido revelada, no mês passado, pelo jornalista Marcelo Auler, do Jornal do Brasil, mas ainda não se conhecia a íntegra do relatório da PF.

O vídeo foi gravado clandestinamente por Dadá, em 6 de outubro de 2006, 21 dias depois da prisão dos "aloprados". Nele, Pedrosa mapeia os bastidores da operação e explica como, na verdade, os petistas teriam sido levados a uma armadilha montada pelo próprio Luiz Antônio Vedoin, com a cumplicidade dos tucanos.

De acordo com o relatório da PF, baseado no vídeo de Dadá e Pedrosa, Vedoin montou o dossiê contra José Serra e, em seguida, avisou a um empresário de Piracicaba (SP), Abel Pereira, sobre o assunto. Vinculado ao PSDB, Pereira, morto em 2007, era ligado ao ex-ministro da Saúde Barjas Negri, tucano que substituiu Serra no cargo. Na investigação da PF sobre a venda superfaturada de ambulâncias, em 2006, ele foi apontado como principal operador do esquema ao lado de Negri, este último acusado de receber propinas para liberar as compras irregulares. "O tal do Abel, que é ligado ao PSDB, comprou o silêncio do Vedoin", diz Pedrosa a Dadá.

Segundo o jornalista, o empresário Abel Pereira, então, teria avisado correligionários de Serra sobre a negociação. A partir daí, o então candidato ao governo de São Paulo teria entrado em contato com a ala tucana da PF - ainda influente, naquela época - e desencadeado a operação policial que prendeu os petistas, em 15 de setembro de 2006. Esta mesma ala tucana, representada pelo delegado federal Edmilson Bruno, iria vazar, 15 dias depois, as fotos do dinheiro apreendido na operação. Bruno chegou a dizer que as imagens haviam sido roubadas, mas depois confessou tê-las passado a jornalistas.

Em um dos trechos do vídeo, Mino Pedrosa diz o seguinte a Dadá: "Quem montou a armadilha foi o próprio (Luiz Antônio) Vedoin. Vendeu pra o PT a porra e disse pra Abel {Pereira). Aí, Abel foi e vazou essa porra. Nego armou a arapuca e ficou esperando o patinho cair. O patinho caiu, o PT dentro dela, e se fodeu".

Na sequência da conversa, segundo o relatório da PF, Pedrosa confidencia a Dadá ter informações sobre um suposto esquema de financiamento ilícito de campanhas eleitorais do PT, naquele mesmo ano de 2006, por meio do empresário Naji Nahas e do banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, ambos presos, em 2008, na Operação Satiagraha, acusados de diversos crimes contra o sistema financeiro. Por isso, Mino Pedrosa alega ter a "bala de prata" para derrubar Lula, a quem se refere como "barbudo", na conversa. "Eu tenho o tiro na cabeça do barbudo", conta, eufórico, ao araponga.

Para disparar a tal "bala de prata", contudo, Pedrosa precisava que Dadá conseguisse informações junto ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda e à Receita Federal. E o que diz a transcrição do vídeo feita pelos peritos da PF.

Mino Pedrosa: Eu só preciso de um documento que está na Receita e no Coaf, mas tem tudo, todo o mecanismo, com data e tudo. A história é o seguinte, o Daniel Dantas e um cara chamado Naji Nahas.

Dadá: Esse cara é conhecido, porra, Naji Nahas.

MP É o cara que dá dinheiro pro PT.

Procurado por CartaCapital, Mino Pedrosa diz ter tomado conhecimento do relatório da PF recentemente. Não sabia que Dadá havia gravado a conversa em questão. "Se soubesse que ele estava gravando, tinha quebrado a cada dele", garante. O jornalista nega ter sido "assessor" de Carlinhos Cachoeira, como tem sido publicado pela imprensa. Pedrosa garante ter feito apenas uma consultoria para a Vitaplan, indústria de medicamentos genéricos do bicheiro localizada em Anápolis (GO), em 2001. Também diz ter sido mal interpretado pela PF.

"0 que eu quis dizer foi justamente o contrário, que o PT armou para cima do PSDB", afirma, apesar dos trechos do vídeo em que fala da intermediação de Abel Pereira e a "armadilha" preparada por Vedoin para vender o dossiê aos "aloprados" petistas. Pedrosa alega ter procurado Dadá, à época, para conversar sobre uma reportagem que estava interessado em fazer sobre o mercado financeiro. "Eu só falei dessa história dos aloprados porque ele me perguntou", diz o jornalista.

Mino Pedrosa não nega, contudo, a versão da armadilha do PSDB contada a Dadá. "Era uma arapuca do Vedoin, e o PT caiu nela", confirma. "Mas é certo que os aloprados iam comprar o dossiê para atacar Serra na campanha a governador", avalia. Apesar de ter dito a Dadá que a informação sobre a negociação do dossiê havia chegado ao PSDB via Abel Pereira, Pedrosa deu outra versão do fato a CartaCapital. "Foi Vedoin que avisou à PF, depois de preso em Cuiabá, sobre o encontro que teria com os petistas no hotel de São Paulo."

Sobre a tal "bala de prata" para "matar" o ex-presidente Lula, Mino Pedrosa confessa nunca ter conseguido os documentos do Coaf e da Receita Federal que provariam a existência de um esquema ilegal de financiamento de campanhas petistas por Nahas e Dantas. "Era uma informação que eu tinha, mas Dadá não conseguiu os documentos para mim", conta. Pedrosa não sabe por que o vídeo gravado por Dadá foi parar na casa do ex-cunhado de Carlinhos Cachoeira. "Talvez porque eles todos (Dadá, Cachoeira e Adriano Aprígio de Souza) se relacionavam. Eu estava lá como jornalista", afirma.

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Trecho do diálogo (Origem dossiê VEDOIN)
(...)
[15:09)
MINO: não é que o Ministério Público esteja envolvido, num é isso, é tenha feito a armadilha num é isso, quem montou a armadilha, o próprio VEDOIN, vendeu pro PT a porra e disse pro ABEI. que tinha vendido. O ABEI. foi e vazou essa porra, nego armou a arapuca c ficou esperando, o patinho cair, o patinho caiu, o PT entrou dentro dela e se fudeu.

Conclusões

O entendimento da análise policial é de que IDALBERTO MATIAS DE ARAÚJO, vulgo DADÁ, gravou o primeiro vídeo acima analisado, possivelmente sem o conhecimento do jornalista MINO PEDROSA, não havendo no material apreendido indicação das reais motivações de DADÁ para tal procedimento. Apesar de o material ter sido encontrado em poder de ADRIANO APRÍGIO DE SOUSA, apontado como um dos principais membros da ORGCRIM comandada por CARLOS AUGUSTO DE ALMEIDA, conhecido como CARLINHOS CACHOEIRA, não há como afirmar se a gravação teria sido por este encomendada ou se DADÁ teria feito as imagens por iniciativa própria e, posteriormente, repassado a CACHOEIRA. Quanto ao seu

Fonte: Fazenda.gov.br

Imagem: Cartacapital.com