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Alcoolismo afeta 12% da população no país
14/10/2012
Alcoolismo afeta 12% da população no país
Brasília - Muito além da ansiedade, vergonha e impotência. No enredo do alcoolismo, que acomete 12% da população brasileira, o pior obstáculo é a negação. O caso do jogador Adriano, que de tão aclamado quando goleava pela Internazionale de Milão ganhou o apelido de Imperador, tem repercutido no país do futebol. Com trajetória marcada tanto pela habilidade nos gramados quanto por confusões e noitadas, o atacante reacendeu as suspeitas sobre seus problemas com o álcool - externados publicamente por pessoas próximas - ao faltar aos treinos no Flamengo no último fim de semana. Os cerca de 40 milhões de torcedores do time se dividem entre classificar Adriano de irresponsável, exigindo sua expulsão, e defender que o jogador seja ajudado. Ao que tudo indica longe do fim, o drama do rapaz de 30 anos traz à tona a endemia do alcoolismo que devasta o país.
Dados recentes do Ministério da Saúde apontam que, de cada 20 brasileiros com mais de 18 anos, pelo menos três fazem uso abusivo do álcool. Ou seja, bebem, numa mesma ocasião, quatro ou mais doses (no caso de mulheres) e cinco ou mais doses (para homens). Pesquisa realizada pela Unifesp com financiamento da Presidência da República constatou que 12% da população tem dependência da substância. São 22,8 milhões de pessoas - quase 10 vezes a quantidade de moradores do Recife.
Um segundo levantamento da instituição está pronto para ser divulgado. E mostrará aumento das mulheres que bebem com muita frequência, de uma a sete vezes na semana, atualmente em 13%. As mortes são incontáveis, já que o álcool está por trás de acidentes de trânsito, brigas e suicídios. Só os transtornos mentais causados diretamente pela bebida matam cerca de 7 mil pessoas por ano. O número de afastamentos do trabalho por causa do álcool cresceu 10% entre 2009 e 2011, conforme dados da Previdência. Ano passado, mais de 13 mil pessoas perderam a capacidade, temporária ou definitivamente, de produção devido ao problema.
Tantas evidências dos estragos do álcool, porém, não costumam ser suficientes para conscientizar o doente, observa o psiquiatra Carlos Salgado, conselheiro da Associação Brasileira de Álcool e Drogas. "Negar é um mecanismo de defesa que ajuda o indivíduo a manter um hábito, uma relação afetiva", explica o médico.
Para diferenciar o uso frequente, mas não doente, da dependência química, Salgado destaca três itens. Se o álcool ganha relevância para o sujeito atrapalhando alguma parte da vida, o planejamento do cotidiano é feito com o objetivo de beber e a tolerância do organismo em relação à substância muda, para mais ou menos, é preciso cuidado. Simplificando, diz o médico, a bebida se tornou um problema quando "o uso chama atenção do próprio sujeito ou de pessoas que gostam dele".
Cientificamente, o fenômeno ocorre quando o etanol aciona a área cerebral responsável pelo sistema de recompensa. "É a do quero mais. Isso leva à compulsão, da mesma forma como ocorre no caso do sexo, da comida, do jogo ou das compras", explica Ana Cecília Marques, psiquiatra da Unifesp.
O tratamento começa com a desintoxicação, que leva cerca de um mês, quando o paciente enfrenta a síndrome de abstinência. Ultrapassada a fase inicial, ele faz terapia para prevenir recaídas e, depois, segue em manutenção. O índice médio de desistência no primeiro ano é de 50%.
Sem mencionar especificamente o álcool, o ex-empresário de Adriano Gilmar Rinaldi afirmou em uma entrevista recente que "ele precisa de cuidados médicos especializados há muito tempo". Em 2009, no primeiro retorno ao Flamengo, foi noticiado que um psiquiatra descartou um quadro grave de depressão, mas diagnosticou a dependência em álcool.
Fonte: Cofen.com
Imagem: Ronaldo Martins